Caminhos Errantes

sexta-feira, janeiro 30, 2004

Vida

«Estava sempre apressado. Esta tendência começou na escola; estava preocupado com andar para a frente e com crescer. A escola, para mim, não era um interlúdio feliz antes de encarar as duras responsabilidades da vida adulta. Era um necessário mas entediante progresso através do qual tínhamos de passar antes de que a extensa vida de oportunidade, aventura e grande experiência pudesse começar. Era um erro, mas por vezes, hoje em dia, sinto que era um erro do lado certo. A pressa de abraçar a vida é melhor do que a fuga da vida
Oswald Mosley, My Life, Londres, Nelson, 1968, p. 24.

Por vezes, nos intervalos do trabalho mais sistemático, gosto de ler algumas páginas (poucas ou muitas, depende da disposição) de autores como Lipovetsky ou Bruckner. Há neles a intuição de que o nosso cunho mais próprio e essencial é hoje a ligeireza de uma primeira infância. O señorito satisfecho de Ortega, com as suas virtudes (que as há) e os seus defeitos, é hoje, em todo o lado, um paradigma - o paradigma de vida. Sob determinada perspectiva, penso que se pode dizer que a vida é, na sua essência, paixão; e que é dessa paixão que brota, no fundo, a vida humana, quer sob a sua forma individual, quer sob a sua forma social. É por isso, no fundo, que se pôde caracterizar a sociedade moderna como surgindo de uma paixão, tal como Hobbes, no início da modernidade política, a assinalou: uma sociedade constituída a partir da paixão do medo - do medo da morte e da necessidade de segurança que tal medo traz consigo. E é talvez por isso que a sociedade moderna termina hoje também com uma paixão, mas uma paixão exactamente oposta àquela: o medo não da morte, mas da vida. É talvez essa a marca fundamental da nossa situação epocal e da sua sedução pelo infantil: uma espécie de homens permanentemente excitados numa vida vegetativa constituída pelo medo de viver.