Liberalismo e excepção
De certa forma, vivemos numa era pós-liberal. O liberalismo nasceu, cresceu e desenvolveu-se representando-se como uma passagem do poder subjectivo do arbítrio e da vontade para o poder objectivo das regras e das normas. Ele foi essencialmente uma polémica contra o arbítrio, contra a vontade desvinculada, contra aquilo a que kantianamente se poderia chamar o incondicionado. O seu grande princípio político foi a construção do Estado de direito. E a sua grande meta foi o impedimento, tanto quanto possível, de qualquer excepção à norma. Ironicamente, é esta meta que hoje se cumpre exactamente pela sua inversão: a tentativa de colocar a excepção fora do campo do possível estendeu a excepção para fora da sua excepcionalidade. O liberalismo actual consiste não no fim da excepção à norma, mas na própria normalização da excepção.
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