Caminhos Errantes

terça-feira, março 01, 2005

Lido apressadamente

De manhã, entre o café e um bolo, passei pelo Público de ontem: o de hoje estava ocupado e nada há que justifique nem a compra do jornal, nem dedicar atenção à mais extrema actualidade. Apenas uma leitura rápida do editorial de Manuel Carvalho, director-adjunto do dito, numas notas à recente edição do livro de João Paulo II, Memória e Identidade. Citando Ralph Dahrendorf como autoridade contra o Papa, o editorial escandalizava-se com a "intolerância" de "Karol Wojtyla", situada nos antípodas de João XXIII, ao referir-se a um mundo pré-cartesiano como o exemplo de uma fé viva e ao mostrar reservas sobre as nossas sociedades liberais, democráticas, técnicas, perguntando mesmo se estas não apresentam características análogas às sociedades totalitárias. A pergunta é obviamente pertinente - vivemos em sociedades em que todos são livres de ter opiniões, mas em que estas são forjadas por técnicas de manipulação e propaganda que apenas têm comparação nas técnicas de engenharia que se exercem como uma radical determinação da vida, cunhando na política um destino biopolítico. E, perante esta pertinência, divido-me ao tentar apreciar o "espírito" do editorial do Público: simples ignorância ingénua, apenas culpada da falta de crítica habitual; ou o bruto cultivo dos lugares comuns que se alimentam da pressa e da destruição do pensamento? Infelizmente, passo cada vez mais da primeira hipótese para a segunda.