Política e verdade no pensamento de Martin Heidegger
Sei que os meus alunos me criticam por não lhes fornecer lístas intermináveis de bibliografia secundária que, por vezes, impedem de ler o que é fundamental e ir zur Sache selbst... Talvez por isso, aqui vai uma sugestão de leitura de cuja recomendação Marcelo Rebelo de Sousa certamente se esquecerá. Trata-se de Política e Verdade no Pensamento de Martin Heidegger (São Paulo, Edições Loyola, 2003), da autoria de Pedro Rabelo Erber, amigo e colega do tempo em que estive em Freiburg. Este pequeno livro será certamente utilíssimo para a introdução de um público estudantil, e mesmo de um público não especializado, a essa questão "quente" da relação entre a filosofia de Heidegger e a política. Trata-se de uma perspectiva filosófica da análise dessa relação e não de uma perspectiva biográfica, condenatória ou desculpabilizante, do envolvimento de Heidegger com o nacional-socialismo. Numa análise que se espraia por quatro etapas fundamentais - 1. o desenvolvimento do projecto da ontologia fundamental, nos anos 20, e o vislumbre de uma análise política meta-ontológica; 2. O reitorado de 1933-34; 3. A retirada do reitorado e a preparação das lições sobre Hölderlin e Nietzsche, nos anos 30 e 4. A concepção do Estado como uma construção romana, metafísica e, nesse sentido, niilista, nos anos 40 -, o livro de Pedro Erber só peca pelo carácter, por vezes, um pouco apressado da análise e, na minha perspectiva, por não dar relevância à confrontação (à Auseinandersetzung) entre Heidegger e o Ernst Jünger de A Mobilização Total e O Trabalhador. Para quem se interessa sobre o tema, trata-se, no âmbito da bibliografia disponível em português, de um acontecimento editorial relevante.
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