A alegria e a dor
Talvez toda a causa da dor consista em importarmo-nos uns com os outros. Mas também será essa a causa de toda a alegria. Eis o paradoxo fundamental: a dor e a alegria partindo irmanadas de um princípio comum. No meio, entre uma e outra, está uma anorexia, uma anestesia tentadora: ficar fechado sobre si, a sós consigo mesmo, sem desejos nem sensações, sem pathos, sem entusiasmo nem sofrimento, sem alegria nem dor. É tentadora, talvez até saudável e sensata, a proposta de um budismo piedoso. Mas valerá a pena viver sem riscos? Valerá a pena anular o sofrimento à custa da morte simultânea da alegria? Apesar da origem comum, não é a alegria, como se lê no Zaratustra de Nietzsche, sempre mais profunda que a dor? Não é só a alegria que quer e conquista a eternidade?
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