Caminhos Errantes

segunda-feira, agosto 11, 2003

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

Escrevo enquanto oiço o som das sirenes nesta capital desolada pelo calor.
Mais um ano em que nos resta esperar os paliativos cosméticos que os peritos
do costume nos propõem para contornar os problemas perenes que desde sempre nos afligem.
E, contudo, olhando mais além na direcção do Oceano Pacífico, eis que nos
surge o Mensageiro da Verdade nas suas vestes humanas, demasiado humanas. O herói da nossa juventude cresceu e tornou-se o mito másculo contemporâneo:
oriundo da Velha Europa execrada pelos falcões do Pentágono, emigrante
triunfador na América do negócio e do ócio, transmutado em protagonista dos
nossos sonhos de celulóide, campeão dos campeões, duro dos duros, bom dos
bons, ariano entre Untermenschen, gigante entre anões, heterossexual entre pedófilos, milionário entre remediados, epítome ambiciosa das aprazíveis virtudes incensadas na era da globalização, ele é Arnold Schwarzenegger (em luso, Arnaldo Pretonegro)...
Arnaldo (ou, talvez, Arnoldo numa tradução mais literal) quer ser Governador
Republicano da Califórnia que os Democratas (leia-se, os Socialistas lá do
bairro) quase faliram. Ele quer - segundo as melhores fontes disponíveis -
que a Califórnia volte a ser uma "land of plenty", uma terra bem administrada, ordeira, segura, de onde as pessoas e as empresas não saiam nem queiram sair (mas onde é que eu já ouvi isto?).
Arnaldo quer ser Governador Republicano da Califórnia para demonstrar que
não é só máquina, não é só músculo, não é só carne, mas também é espírito,
também é comunhão fraterna, também é aspirante a inquilino da Casa Branca.
Impõe-se, por isso, uma pergunta e uma pergunta apenas: será Arnaldo um
clone transviado do nosso mais comezinho "Cherne"?

Giraldo, o wahabita lusitano