Sobre mim
Tenho pouco tempo para ler outros blogs ou mesmo para escrever. Por isso, esta página é (e será) actualizada a um ritmo lento, quando calha, obedecendo apenas ao critério da disponibilidade e da ocasião. A urgência de um doutoramento inadiável assim o exige. E, além disso, o meu querido orientador (que é também um grande amigo) não ficaria satisfeito de me saber perdendo tempo de leituras e de estudo na redacção de textos ocasionais - até agora, quase diários - por mais apressados e fragmentários que sejam. Felizmente, não creio que ele se dedique à "blogosfera"... É também por isso que sinto como uma perda de tempo escrever algo sobre mim, embora alguns dos mais interessantes escritos que conheço, como o Del sentimiento trágico de la vida, de Miguel de Unamuno, ou o Ex captivitate salus, de Carl Schmitt, tenham sido escritos na primeira pessoa, desenvolvendo-se sob a sombra inquietante dessa terrível pergunta: quem és? Mas falar de nós, por vezes, impõe-se-nos. E penso que se impõe um pouco neste caso.
A Clara Macedo Cabral (que escreve no Desejo Casar) telefonou-me ontem, dizendo que o Pedro Mexia se referia a mim e ao meu blog, depois de ter regressado ao Dicionário do Diabo. Fui ver. E verifiquei que o Pedro se referia a mim como sendo da "família política" da "direita tradicionalista e nacionalista", distinguindo-me depois simpática e generosamente como tendo, dentro desta "família", a rara qualidade de pensar. Aludia, além disso, ao facto de me ter dedicado (e dedicar) ao pensamento de Carl Schmitt, Ernst Jünger e Martin Heidegger, que são certamente alguns (mas não os únicos) dos meus autores de eleição, classificando-os depois aos três como tendo "ideias políticas que não se recomendam" (como se fosse possível - para além das análises superficiais e datadas ao estilo do Pierre Bourdieu de L'ontologie politique de Martin Heidegger, por exemplo - encontrar nestes três autores ideias políticas comuns). As palavras não valem nada para além da imprescindível hermenêutica e, não fosse o Pedro a usa-las, não me preocuparia muito com este tipo de caracterizações. Diante das palavras, é necessário por vezes usar uma máxima esboçada por Wittgenstein: tudo quanto pode ser dito, pode ser dito claramente. Assim, trocando em miúdos, julgo não estar a ser injusto se deduzir que o Pedro disse simpaticamente sobre mim aquilo que um colega meu de Coimbra, professor da Faculdade de Direito, me dizia há uns tempos, por graça, sobre Carl Schmitt: "o homem era um bocado fascista, apesar de ser inteligente".
A nota do Pedro de que as ideias políticas de Jünger, Schmitt ou Heidegger (e, ao que parece, também as minhas) "não se recomendam" - sem que essas ideias (ou pelo menos uma delas, como exemplo) sejam especificadas ou sequer aludidas - soou-me, sem querer cometer injustiças, a uma espécie daquelas advertências contra o perigo de leituras pouco recomendáveis, dirigidas pelo director espiritual ou pelo guru demasiado escrupuloso aos neófitos que tem por demasiado ingénuos. E isso é desagradável porque cola o visado, sem qualquer justificação, a algo que o torna imediatamente objecto de rejeição ou, pelo menos, de suspeita. É claro que eu sei, e que sei que ele sabe que eu sei, que o Pedro, meu colega dos tempos de estudante - ele fazia direito e eu filosofia - não teve qualquer intenção desse género e não procurou senão fazer-me uma simpática referência, a qual, como é natural, agradeço e retribuo. Mas talvez seja essencial, quando trocamos ideias, discutimos ou simplesmente pensamos, livrarmo-nos dos rótulos que à partida nos saem, abandonarmos as cartilhas e os juízos prévios, para procurarmos ir, como dizem os alemães, zur Sache selbst, à "coisa mesma"... Se o fizermos, veremos que há sempre mais coisas no céu e na terra do que sonhos nas nossas vãs certezas e que, felizmente, a realidade é mais complexa do que o que cabe na simplicidade tantas vezes apressada dos nossos catálogos.
A Clara Macedo Cabral (que escreve no Desejo Casar) telefonou-me ontem, dizendo que o Pedro Mexia se referia a mim e ao meu blog, depois de ter regressado ao Dicionário do Diabo. Fui ver. E verifiquei que o Pedro se referia a mim como sendo da "família política" da "direita tradicionalista e nacionalista", distinguindo-me depois simpática e generosamente como tendo, dentro desta "família", a rara qualidade de pensar. Aludia, além disso, ao facto de me ter dedicado (e dedicar) ao pensamento de Carl Schmitt, Ernst Jünger e Martin Heidegger, que são certamente alguns (mas não os únicos) dos meus autores de eleição, classificando-os depois aos três como tendo "ideias políticas que não se recomendam" (como se fosse possível - para além das análises superficiais e datadas ao estilo do Pierre Bourdieu de L'ontologie politique de Martin Heidegger, por exemplo - encontrar nestes três autores ideias políticas comuns). As palavras não valem nada para além da imprescindível hermenêutica e, não fosse o Pedro a usa-las, não me preocuparia muito com este tipo de caracterizações. Diante das palavras, é necessário por vezes usar uma máxima esboçada por Wittgenstein: tudo quanto pode ser dito, pode ser dito claramente. Assim, trocando em miúdos, julgo não estar a ser injusto se deduzir que o Pedro disse simpaticamente sobre mim aquilo que um colega meu de Coimbra, professor da Faculdade de Direito, me dizia há uns tempos, por graça, sobre Carl Schmitt: "o homem era um bocado fascista, apesar de ser inteligente".
A nota do Pedro de que as ideias políticas de Jünger, Schmitt ou Heidegger (e, ao que parece, também as minhas) "não se recomendam" - sem que essas ideias (ou pelo menos uma delas, como exemplo) sejam especificadas ou sequer aludidas - soou-me, sem querer cometer injustiças, a uma espécie daquelas advertências contra o perigo de leituras pouco recomendáveis, dirigidas pelo director espiritual ou pelo guru demasiado escrupuloso aos neófitos que tem por demasiado ingénuos. E isso é desagradável porque cola o visado, sem qualquer justificação, a algo que o torna imediatamente objecto de rejeição ou, pelo menos, de suspeita. É claro que eu sei, e que sei que ele sabe que eu sei, que o Pedro, meu colega dos tempos de estudante - ele fazia direito e eu filosofia - não teve qualquer intenção desse género e não procurou senão fazer-me uma simpática referência, a qual, como é natural, agradeço e retribuo. Mas talvez seja essencial, quando trocamos ideias, discutimos ou simplesmente pensamos, livrarmo-nos dos rótulos que à partida nos saem, abandonarmos as cartilhas e os juízos prévios, para procurarmos ir, como dizem os alemães, zur Sache selbst, à "coisa mesma"... Se o fizermos, veremos que há sempre mais coisas no céu e na terra do que sonhos nas nossas vãs certezas e que, felizmente, a realidade é mais complexa do que o que cabe na simplicidade tantas vezes apressada dos nossos catálogos.
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