Pequena reflexão pré-eleitoral 1
Daqui a pouco vou votar, sem grande vontade de o fazer. Não por ser monárquico e, consequentemente, por achar que deveria ter o direito a que o chefe do Estado a que pertenço fosse uma pessoa livre, sensata e educada, ligando, numa unidade feita das mais extremas diferenças, a sucessão das gerações, e não um comissário de grupos sociais imposto, tendo em conta as circunstâncias próximas, pela propaganda do momento. Um monárquico que não viva exilado deve também votar nas eleições presidenciais. Portanto, voto. Mas voto sem nenhum entusiasmo e com a absoluta convicção acerca da irrelevância política do acto. No fundo, uma eleição desta natureza não é propriamente uma eleição, uma escolha ou uma decisão, mas um registo estatístico tecnicamente controlado. E o controlo técnico da escolha é aqui - para que a eleição realmente funcione como instrumento mecânico em que assenta o funcionamento de todo o aparelho - o decisivo. Se o Estado se transformou numa máquina, as eleições são, afinal, apenas o óleo que propicia a continuação do seu funcionamento mecânico. E, para manter a metáfora, o controlo da qualidade do óleo, a segurança de que corresponda às expectativas, é a própria condição para que este seja utilizado e empregue.
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