Um agradecimento devido ao Nuno Dempster
Queria agradecer, em particular, ao Nuno Dempster não apenas a leitura atenta (e inquieta) dos textos presentes neste blog, mas também as palavras tão simpáticas que me dirigiu. O pequeno fragmento que intitulei para além da forja é, sem dúvida, inspirado numa das linhas de reflexão que me parece mais inquietante e fecunda para uma tentativa de pensar hoje a política: a visão da nossa situação política actual como baseada numa transformação daquilo a que poderíamos chamar a realidade do poder, na sua presença e visibilidade. Nesta situação, dir-se-ia que hoje o poder simplesmente não aparece, escondido atrás do rule of law, das burocracias, dos procedimentos democráticos, das regras administrativas, das liberdades privadas. Com este não aparecimento, vivemos na sensação de uma espécie de “era do pós-poder”. E isso alimenta um habitual sentimento de “superioridade moral”, que arrasta consigo um discurso sobre as “sociedades civilizadas”, as sociedades que conseguiram arrancar de si a tentação da violência. Mas é justamente aqui que importa perguntar: será que este não aparecimento do poder traduz o seu desaparecimento? Será que ele não traduzirá apenas a sua transformação? E será que esta transformação não vai no sentido da invisibilização do próprio poder? E será que, pela perda da publicidade que é própria da visibilidade, pela própria falta de uma forma que o contenha, localize e circunscreva, não é possível dizer que o próprio poder hoje se intensifica? Alguns pensadores – como, por exemplo, Walter Benjamin, Carl Schmitt, Michel Foucault ou René Girard – percorreram caminhos, todos eles muito diferenciados, em torno desta questão. O recente livro de Giorgio Agamben, Stato di Eccezione, publicado em Maio deste ano, é uma excelente abordagem do tema e, para mim, um dos acontecimentos editoriais deste ano no âmbito da filosofia política. Pela minha parte, o tema interessa-me particularmente. Sobretudo num artigo intitulado “Soberania e Poder Total. Carl Schmitt e uma reflexão sobre o futuro”, que publiquei na Revista Filosófica de Coimbra, nº 20, vol. 10 (2001), tentei, a propósito de Carl Schmitt, uma confrontação com esta questão. E com esta questão se relaciona também um outro meu artigo recentemente publicado, na Revista Metacrítica da Universidade Lusófona, intitulado Um olhar teológico-político sobre o liberalismo político contemporâneo e cuja edição on-line se pode encontrar aqui. Espero também, numa conferência que darei em Novembro, voltar a abordar o assunto em breve.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home