Mudar as regras
Vivemos ainda hoje, sem pensar muito nisso, sob duas “visões do mundo” antagónicas, cujas consequências são paradoxalmente as mesmas. Por um lado, vigora ainda o mais extremo “positivismo”: o exclusivo reconhecimento do histórico e do mundano, a pura obediência à “lei da natureza”, a simples entrega àquilo que é fáctico. Por outro lado, vigora ainda um “dualismo” radical, onde o dentro e o fora, o espírito e a natureza, a moral e a violência, o direito e o poder surgem como mundos separados, como reinos cindidos, cada um regido pela sua lei própria e sem a possibilidade de qualquer mútua interferência. Um e outro têm como consequência a entrega daquilo que é fáctico à sua facticidade, a entrega do mundo à sua lei imanente. Diante desta entrega, temos hoje de pensar a possibilidade de entrar no mundo sem sermos regidos pela sua lei. Não se trata nem de desistir de jogar com o mundo, desvinculando-nos do que é fáctico e retirando-nos para fora dele; nem de entrar no seu jogo, pagando pela entrada a submissão às suas regras e a obediência à sua lei. Trata-se, pelo contrário, de entrar no jogo do mundo mudando as regras do jogo.
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